"Há quanto tempo não escrevo um soneto
Mas não importa: escrevo este agora.
Sonetos são infância, e, nesta hora,
A minha infância é só um ponto preto,
Que num imóbil e fatal trajeto
Ao comboio que sou me deita fora.
O soneto é como alguém que mora
Há dois dias em tudo que projeto.
Graças a Deus, ainda sei que há
Quatorze linhas a cumprir iguais
Para a gente saber onde é que está...
Mas onde a gente está, ou eu, não sei...
Não quero saber mais de nada mais
E berdamerda para o que saberei."
(De Antologia poética, organizada por Cleonice Berardinelli e publicada pela Casa da Palavra.)
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