"Os deuses da Antiguidade desciam à terra para se misturar à espécie humana, para fornicar com animais e árvores e com os próprios elementos. Por que somos tão cheios de restrições? Por que não nos entregamos em todas as direções? Será medo de perder a nós mesmos? Até que nos percamos, não pode haver esperança de nos encontrarmos. Somos do mundo e para entrar plenamente no mundo precisamos primeiro nos perder nele. O caminho do céu nos leva através do inferno, é o que se diz. O caminho que tomamos não tem importância, contanto que deixemos de percorrê-lo com cautela."
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"Quando nossos desejos são baldados ou suprimidos, a vida se torna mesquinha, feia, cruel e mortal. Justamente como ela é, em outras palavras. Afinal, o mundo que habitamos é apenas a imagem refletida do nosso caos interior. Nossos curandeiros, ou juristas fanáticos, ou pedagogos penitentes e mistificadores que dominam o cenário gostariam de nos fazer acreditar que, para participar de uma vida em sociedade, o ser selvagem, primitivo, como chamam o homem natural, tem de ser manietado e agrilhoado. Todo ser criativo sabe que isto é falso. Nada jamais foi alcançado prendendo, imobilizando, agrilhoando, algemando um ao outro. Nem o crime nem a guerra, nem a luxúria nem a cobiça, nem a maldade nem a inveja são assim eliminados. Tudo o que se consegue, em nome da Sociedade, é a perpetuação da grande mentira."
(De O mundo do sexo, tradução de Roberto Muggiati, publicado pela José Olympio Editora.)
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