segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Janelas abertas

A Morte foi buscar o homem triste que morava no sobradinho verde da esquina. Por três anos, suas janelas ficaram fechadas: qualquer brisa poderia ser fatal para os seus pulmões. Ninguém sabe como, esta noite a Morte conseguiu entrar ali. Nada a denunciou, nenhum  dos cachorros, nem o gato que dormia com o doente, numa pequena cama, no chão. É mesmo impossível a Morte, ouvi a empregada do homem comentar agora há pouco. Não há o que se possa fazer contra ela. Eu concordei, mas, pelo sim, pelo não, passarei a deixar abertas, dia e noite, minhas janelas todas. E colocarei um número maior na frente. Prevenir enganos é dever de todos. A verdade é que me senti lesado, como quem recebe do carteiro uma notificação de multa de trânsito, enquanto ao vizinho ele entrega uma carta de Verônica Sabino.

Nenhum comentário:

Postar um comentário