terça-feira, 29 de outubro de 2013
A nova poesia
Noto nos poetas brasileiros das safras mais recentes uma contenção talvez ainda mais severa que a do tempo em que a mais importante das bandeiras era empunhada contra a poesia piegas e edulcorada. Sinto em muitos poetas de hoje uma tendência à geometrização, à valorização do visual, uma afinidade com a pintura e a escultura. Parece que vivemos o mesmo momento que precedeu o concretismo. Há um pudor de sentir, de exprimir o sentido. O poema não se escreve, distribui-se na página em blocos exatos, científicos quase. Os poetas novos temem ser acusados de ingenuidade e protegem-se dela com areia, tijolo, cimento e cal. Alguém emocionar-se com algum poema de qualquer um deles é fazê-los passar pela vergonha suprema. João Cabral de Melo Neto contribuiu um bocado para isso. Vista sob a perspectiva da época em que ele construiu sua obra (e construir me parece o verbo adequado), ela tem uma justificativa que agora talvez não se sustente mais tão bem. Dirigida cada vez mais à razão que à sensibilidade, a poesia anda fazendo feio nas livrarias e, se alguém perguntar a um atendente qual seria o poeta moderno mais indicado, a resposta provavelmente será Carlos Drummond de Andrade.
Raul, talvez não seja totalmente nem por "culpa" dos novos poetas, mas sim dos editores... uma vez li em um jornalão certas 'dicas' para quem estava iniciando na poesia e queria ter seu livro publicado... lá pelas tantas uma editora exclama: "será que vocês só sabem escrever poesias de amor? Nós só recebemos isso, não estamos interessados, estamos saturados, etc. Mandem outro tipo de poesias..." Querem mandar até no que os poetas querem SENTIR, Raul. Pode uma coisa dessas?
ResponderExcluirEu fiz o comentário pondo-me, como na verdade sou, um leitor amante da poesia. Diante de um poema, eu quero ser fisgado pelo sentimento. Se esse sentimento for controlado pela razão, para que não se torne puro melado, ótimo. O que não aguento são coisas frias, apenas frias. Creio que para isso existe a prosa, se bem que também nessa um salzinho e certa pimenta não façam mal. Não vejo problema nenhum em ter como tema o que acontece na nossa vida diária, e o amor, com suas várias faces (ciúme, rejeição, esperança, traição), ainda é uma dessas faces. Não o cantaremos como Casimiro de Abreu, com a linguagem dele, mas deixar de cantá-lo acho que é como "capar" a poesia. Quanto aos editores, embora vivam disso, parecem estar sempre contra a poesia, o conto, o romance, o ensaio. No geral, editam como um ato de indulgência, de benevolência, de amor ao próximo. Vamos fazer o quê? Eu, por mim, espero continuar cometendo poesias.Ainda não matei ninguém com nenhuma delas... Um abraço, Fernando.
ExcluirDe acordo, Raul... e eu também estou inocente nessa!... Rs! Abraços.
ExcluirHoje escrevi "sonetaços" daqueles que fazem qualquer crítico cuspir serpentes. Escrevi também coisas menos "naftalinadas". Acho que a linguagem deve nos servir de acordo com o que somos e, mais que isso, de acordo com o que estamos sentindo. Faz algum tempo, já, que minha alma exige boleros, bolerões bem cafonas, daqueles que só as rameiras bem rampeiras sabem dançar de verdade. O lema é poetar. Agradaremos aos críticos e aos editores ou tentaremos tirar um sorriso da loira que faz nosso coração retumbar como um bumbo? Dancemos como manda a música. Abraços, Fernando
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