Meu sofá é agora meu barco. Navegamos pela sala na velocidade que convém à nossa idade. Parece que nem nos movemos. Não temos ilusões de descobrir ilhas ignotas nem nascentes de rios. O google já mapeou todas. Minha carta de navegação é um livro, quase sempre de poesia: Wislawa, Emily, Rainer, nos quais encontro a voz que um dia pensei ter. Procuro esquivar-me se o poema é de amor. O amor é já vento demais para mim e para o meu sofá. Se começo a sentir inquietação na água debaixo de nós, viro uma página, duas, e pronto: estamos meu sofá e eu de novo navegando placidamente, sob um fio dágua que não aspira a chegar ao mar.
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