"Rigaut fez pouco-caso das palavras de seus amigos, pois desde que voltou da África o suicídio havia adquirido, para ele, valor de sacramento único. Deu seus primeiros passos em direção a esse gesto definitivo em Port Actif, quando, sem avisar ninguém, penetrou na selva, desaparecendo numa obscura noite de grandes árvores em que, rodeado pelo úmido silêncio das folhas, inventou para si mesmo o pretexto de que estava perdidamente apaixonado por Georgia O'Keefe para assim poder se sentir cada vez mais inclinado a deixar a vida, pois estava seguro de que sua amada o rejeitaria sem nem sequer olhar para trás, o que de fato aconteceu. Mas, como já disse, isso não foi obstáculo para que demorasse ainda dois anos para se suicidar.
É que, durante esse período, sentir-se imensamente desgraçado e ter diante de si a perspectiva do suicídio lhe devolveu o senso de humor, o que é fácil de constatar naquele texto ou anúncio publicitário que, na volta de Port Actif, redigiu em Paris com a intenção de divulgar sua Agência Geral do Suicídio, um departamento peculiar na história da literatura portátil:
'A Agência Geral do Suicídio oferece finalmente um meio bastante adequado de abandonar a vida, pois, de todas as extinções, a morte é a única que jamais se desculpa. Assim se organizam os enterros-expressos: banquete, cortejo de amigos e conhecidos, fotografia (ou máscara mortuária, à escolha), distribuição de lembrancinhas, suicídio, colocação no ataúde, cerimônia religiosa (facultativa), traslado do cadáver ao cemitério. A Agência Geral do Suicídio se encarrega de realizar as últimas vontades dos Senhores Clientes'."
(Do livro História abreviada da literatura portátil, tradução de Júlio Pimentel Pinto, publicado pela Cosacnaify.)
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