domingo, 22 de dezembro de 2013
As cadeiras
Cumprimos já o papel que nos destinaram. Acabou a temporada, todos se foram, os atores, as atrizes, o diretor, o cenógrafo, a figurinista, o iluminador. Ficamos nós, ouvindo os homens que vieram medir coisas aqui. Ficamos sós, ouvindo os boatos de que tudo será demolido para a construção de um prédio de apartamentos. Quem há de nos querer, velhas cadeiras de teatro? Talvez venham a sentar-se em nós os corretores da imobiliária. E pensar que nesses trinta anos sentimos o calor de vilões, de vilãs, de princesas, de cortesãs. Bundas que tão prazerosamente acolhemos tramaram aqui conspirações, armaram ciladas, derrubaram impérios. Quem nos devolverá o frisson que tínhamos quando sentíamos o calor daquela que viria a ser morta pelo mouro? Quem saberá que guardamos ainda alguns fios de seus cabelos de puro ouro? Ah, Ionesco, só tu nos conheceste bem, só tu nos deste papel de protagonistas.
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