Às vezes, penso que gostaria de ser um locutor daqueles antigos, com um programa noturno em que pudesse ler meus poemas com um fundo musical bem romântico e, preservado pelo anonimato sem imagem do rádio, encantar talvez duas ou três (ou uma) ouvintes que me supusessem belo e jovem. Imaginando isso agora (seguramente por ter visto à tarde A era do rádio, de Woody Allen), despeço-me com um boa-noite e este soneto que escrevi num tempo em que julgava saber o que era o amor. A música que pedi ao contrarregra é Tudo que se quer, com Verônica Sabino.
Que o amor possa nos ser leve
Como a sombra de uma pluma
E ainda mais tênue e mais breve
Que o borbulhar de uma espuma.
Que modesto ele se faça
E saiba se comportar
Como um pouco de fumaça
Desvanecendo-se no ar.
Que, viva quanto viver,
Viva o necessário só,
E, no dia em que morrer
Para transformar-se em pó,
Que tenha ele em nós cumprido
O que do amor é exigido.
Até amanhã, caras ouvintes
Programa de rádio é tudo de bom.
ResponderExcluirEu também gosto, Rose.
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