"Estão preparando a iconografia
dos escritores máximos e em breve mesmo
a dos mínimos. Veremos onde habitaram,
se em mansões ou em pardieiros, suas escolas
e latrinas se internas ou em anexos
do lado de fora com os canos suspensos
sobre pocilgas, estudaremos os horóscopos
dos ascendentes, rebentos e descendentes,
as ruas frequentadas, os prostíbulos, se algum ainda
sobrevive à honrada Merlin,
tocaremos suas vestes, seus roupões, suas seringas anais
se usadas e quando e quantas vezes, os cardápios de hotéis,
as promissórias assinadas, as loções
ou poções ou decocções, a duração
de seus amores, etéreos ou carnívoros
ou apenas epistolares, leremos
fichas clínicas, análises e se buscavam o sono
lendo Baffo ou a Bíblia.
Assim a história
descura as epistemes pelas hemorroidas
enquanto flâmulas olímpicas tremulam dos mastros
e rajadas de metralha fornecem o acompanhamento."
(De Poesias de Eugenio Montale, tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti, publicação da Record.)
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