"21/11/00
Preclaro Ivan,
não aguento mais ouvir falar de poesia. Sobretudo das suas poesias. Mudo o papo para um tema definitivamente másculo: balé.
Botei paletó e gravata e fui ao balé. De táxi, pois o tempo urgia. Na rua Xavier de Toledo, entre a Biblioteca Mário de Andrade e a ladeira da Memória, o trânsito encaralhou de vez. Disse ao chofer que iria o resto do caminho a pé. Ele me olhou como se tivesse dito que iria me atirar da amurada da ladeira da Memória. Vaticinou que não chegaria vivo ao teatro. Fiz ouvidos de mercador e desci do carro, depois de pagar-lhe o preço da corrida. Gritei: 'Olha o rapa!' e, qual o mar Negro ante o cajado de Moisés em Exodus, o oceano humano se abriu e passei, célere, antes que se fechasse novamente. Sentamos na quinta fileira.. O espetáculo era A rota da seda. Achei-o deslumbrante. Não existe nada mais lindo do que corpos femininos em movimento. E que corpos."
(Do livro Eles foram para Petrópolis, correspondência entre Conti e Lessa, publicado pela Companhia das Letras.)
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