MAJOR QUEDINHO, 28
Te revi hoje
velho prédio
Primeiro vi de longe
lá no alto teu relógio
marcando um tempo
que já não conheço
e já não me reconhece
Já quase na Martins Fontes
eu fiquei um pouco diante
do mural de Di Cavalcanti
bem ao lado do qual
o letreiro luminoso
notícias do mundo trazia
de Chipre de Tenerife
do Egito e da Turquia
Mineiros morriam em minas
e em Minas havia drummonds
que em São Paulo não havia
mas num escritório da Barão
com brilho e precisão
o poeta Guilherme de Almeida escrevia
as crônicas que teu jornal
meu querido prédio velho
no dia seguinte publicaria
Te revi hoje
velho prédio
onde a pulsação
do mundo se ouvia
E penso que
se não houvesses existido
eu não teria conhecido
tantas coisas que conheci
e imagino
que Chipre e Tenerife
que Egito e Turquia
e tudo que no mundo havia
houve somente
para que em teu coração
se escrevesse diariamente
o sagrado e o profano
a miséria e a glória
a tragicômica história do ser humano.
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