sábado, 18 de junho de 2011
Magda
Os últimos ecos do baile se esgarçaram na morna madrugada de verão, os últimos carros levando embora os últimos convidados se foram e as últimas luzes da grande casa se apagaram. Só o rapaz de olhos tristes ficou na esquina, tentando distinguir, no meio da espessa treva, o salão onde por alguns minutos dançara com a garota ruiva que - ele já sabia - até os seus últimos dias não conseguiria esquecer. Ela lhe dissera chamar-se Magda e com um aceno de cabeça dera a entender, respondendo à pergunta dele, que morava em São Paulo mesmo, por onde ele a buscaria durante quarenta anos, bairro por bairro, sem saber que ela se chamava Louise e morava na França, para onde embarcou no dia seguinte, sem jamais voltar a São Paulo, de onde, nos seus últimos dias, guardava apenas a lembrança esmaecida de três dias passados com os tios, de uma avenida bonita e imensa, de um parque com nome estranho, de um baile a que tinha ido com as duas primas, das músicas alegres e de uma porção de rapazes bobocas aos quais, para não ficar explicando todo o tempo que era francesa, não tinha dito senão o nome - nunca o verdadeiro, sempre um inventado na hora.
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