segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013
No jornal (Major Quedinho) - 47 - Os haicais
Eu devia ter dois ou no máximo três anos de jornal quando o dr. Décio de Almeida Prado, diretor do Suplemento Literário, passou a ir uma vez por semana à revisão, para liberar as provas finais do suplemento. Eu, que tinha recentemente descoberto o haicai e escrevera alguns, tive o impulso de mostrar ao doutor meia dúzia deles. Era uma ousadia para a qual minha timidez, absurdamente grande na época, representava um obstáculo muito difícil de transpor. Eu olhava para o dr. Décio, passava diante dele, sorria, pigarreava, e desistia. Sentindo que dessa forma eu jamais conseguiria falar com ele, usei um velho recurso dos tímidos. Escrevi um bilhete à mão, copiei alguns haicais (já não lembro quantos), deixei o envelope na mesa do doutor e me afastei correndo, com todas as pernas que tinha. Não sei se naquele dia mesmo - mas sei que rapidamente -, o dr. Décio me deu a resposta. Disse que publicaria os haicais no suplemento. Fiquei maravilhado e não consegui esconder minha alegria. Logo não havia um revisor que não soubesse. Alguns dias depois, fui chamado à tesouraria, assinei um recibo e me pagaram pelos haicais. Também nessa vez eu fiz um estardalhaço de mil tambores na revisão. Ocorre que o tempo foi passando e todo sábado (dia em que era publicado o suplemento) eu me decepcionava: nada dos haicais. Quando eles foram publicados, não sei o que era maior, se minha satisfação ou se meu alívio. Soube recentemente por um revisor daquele tempo (Rafael Sânzio de Azevedo) que, naquele período no qual parecia que os haicais não sairiam, um dos tantos brincalhões que havia ali disse que não sairiam nunca. Rafael estranhou: por que, então, eu já havia até recebido o dinheiro? A resposta foi: "O jornal pagou exatamente para isso, para não publicar. Assim o prejuízo é menor..."
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