terça-feira, 12 de fevereiro de 2013
No jornal (Major Quedinho) - 2 - O Mutamba
Saíamos de madrugada, nunca antes das duas, e quase sempre íamos dançar - no Avenida (na Ipiranga) ou no Chuá (na São João). Havia, nesses dois dancings, orquestras (sim, orquestras, não bandas ou conjuntos) e belas taxigirls. Davam-nos um cartão na entrada. Pegávamos uma mesa, pedíamos bebida e ficávamos olhando as dançarinas. Escolhíamos uma e rodávamos pelo imenso salão. A cada uma das taxigirls correspondia um fiscal de pista, que anotava o tempo em que cada homem dançava com uma delas. Podíamos trocar de dançarina todo o tempo. Quando a orquestra tocava o último número (lembro que no Chuá era sempre a protofonia do Guarani), formava-se a fila dos homens diante do caixa, para a conferência dos cartões picotados e o pagamento. Nas noites em que não íamos dançar (no meu caso a palavra dançar é um tanto exagerada), ficávamos bebendo no Mutamba, um bar ali mesmo, na Major Quedinho, que depois passou a ser conhecido como Bar do Nicola (nome de um dos gerentes). Quando o Mutamba baixava a porta, nós, devidamente trôpegos e alcoolizados, nos sentávamos na calçada na frente dele e, até o sol chegar, ficávamos rodando a piorra maldita (aquele piãozinho que, girado, determinava se o jogador pegava algum dinheiro de volta, se precisava pôr mais para aumentar o bolo ou se, no lance mais valioso (o rapa tudo), ganhava todo o dinheiro acumulado. O fim dessas noitadas era sempre o mesmo: o que havia perdido mais dinheiro acabava atirando a piorra o mais longe que pudesse, com as pragas de hábito e a promessa (nunca cumprida) de jamais entrar naquele jogo. Daí o nome de piorra maldita. (De vez em quando, se vocês me permitirem, contarei essas histórias antigas de jornal que, de alguma forma, reconstituem um pouco do que era São Paulo na época.)
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