domingo, 3 de março de 2013
O jovem poeta na coleira
Há muitos anos, numa bienal de literatura, ainda no Parque do Ibirapuera, à frente do estande de uma dessas editoras que publicam livros pagos pelos próprios autores, fui puxado por um mercenário velho que empurrou, quase jogando-o em cima de mim, um jovem assustado que tinha um livro na mão. O velho disse-me o nome do rapaz, apresentou-o como poeta e ordenou que ele lesse para mim um dos poemas do livro. O menino gaguejou alguns versos, no fim dos quais o velho abjeto pôs a mão no meu ombro: "Senhor, ajude este talento a continuar sua carreira." Isso me deu um daqueles nojos que mexem com as vísceras e, desvencilhando-me, fui embora, sob o olhar de censura do homem e a expressão de constrangimento do rapaz, cujos olhos me pediam desculpas por ter se deixado apanhar por aquele tipo asqueroso.
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