quinta-feira, 18 de abril de 2013

Um trecho de Luiz Carlos Cardoso

"Ele devia ser desses que andam de roupa a chutar ondinhas na praia matinal, as barras da calça dobradas na canela; na areia pontilhada de bundas ao sol, meninas dormem e se bronzeiam, ou mergulham com gritos de frio nas ondas projetando o rabo de sereia. Esses andarilhos, como Fi se fazia uma vez por verão, sonham tê-las e nunca as têm, as bundas na areia plantadas e na água projetadas, que ao avançar da hora matutina se reproduzem em mais bundas, num sem-fim de bundas intocáveis, proibidas, esculpidas para o bico de jovens machos que nelas trepam na feliz inconsciência do que venha a ser a ansiedade postergada, ano após ano, de tê-las à mão e nunca pôr-lhes a mão."

(Do livro Crime improvável, publicado pela Ficções.)

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