sábado, 8 de junho de 2013

Talvez,

 no início dos tempos e das palavras, estas tivessem ainda o poder de ser entendidas pelo amor. Eram ainda pouco usadas, persistia nelas um murmúrio da fonte de onde emanaram, e não desagradavam ao ouvido do amor. De tanto passarem pelos lábios dos homens, elas foram se aviltando, e o amor sentiu que o exaltavam como se ele fosse uma propriedade coletiva. O homem não procurava mais a palavra única, usava as dos outros homens. Nem os poetas se empenhavam mais nessa conquista. O amor, para não morrer de enfado, recolheu-se a um lugar desconhecido e deixou em seu trono um boneco ao qual ainda os preguiçosos homens dirigem seus apelos. O boneco do amor, hoje, só se põe ao alcance das mãos do homem, e a este não importa que seja assim. Sentimentos já não fazem o sucesso de outrora entre a espécie humana. Apalpar, manusear, apertar, ainda que um boneco, é tudo que o homem quer.

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