domingo, 1 de setembro de 2013

"Um amante que sempre lhe enviava o poema", de Sei Shônagon

"Um amante que sempre lhe enviava o poema da manhã seguinte disse-lhe na despedida: 'Como foi que aconteceu? Agora, já não temos mais nada a nos dizer.' Na manhã seguinte, não encontrando nenhuma carta trazida pelo mensageiro que já deveria estar à sua espera na porta, ela passa o dia triste, a se dizer: 'Realmente, ele está decidido.'
   No segundo dia, chovia muito, e como não havia notícias até de tarde, pensou: 'Desta vez, realmente terminamos.' Ao entardecer, estava sentada num canto da varanda quando um mensageiro com guarda-chuva trouxe-lhe uma carta, a qual abriu mais rápido do que de costume, e nela estava escrito somente: 'As águas muito se adensam...', o que lhe foi mais prazeroso do que receber muitos e muitos poemas."

(De O livro do travesseiro, tradução de Geny Wakisaka, Junko Ota, Lica Hashimoto, Luiza Nana Yoshida e Madalena Hashimoto Cordaro, publicado pela Editora 34.)

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