sábado, 16 de novembro de 2013

Um soneto de Pablo Neruda para Matilde Urrutia

"Oh amor, oh raio louco e ameaça purpúrea,
me visitas e sobes por tua viçosa escada
o castelo que o tempo coroou de neblinas,
as pálidas paredes do coração fechado.

Ninguém saberá que só foi a delicadeza
construindo cristais duros como cidades
e que o sangue abria túneis inditosos
sem que sua monarquia derrubasse o inverno.

Por isso, amor, tua boca, teu pé, tua luz, tuas penas,
foram o patrimônio da vida, os dons
sagrados da chuva, da natureza

que recebe e levanta a gravidez do grão,
a tempestade secreta do vinho nas cantinas,
a chama do cereal no solo."

(De Cem sonetos de amor, tradução de Carlos Nejar, publicado pela L&PM.)

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