segunda-feira, 3 de março de 2014

Primeiro parágrafo de "Complexo de Portnoy", de Philip Roth

"Durante o meu primeiro ano de escola, minha mãe estava tão profundamente encravada em minha consciência que eu julgava que cada uma das minhas professoras era ela disfarçada. Logo que a última sineta soava, eu corria para casa, pensando se conseguiria chegar lá antes que minha mãe acabasse de se transformar. Mas ao chegar, porém, ela já se encontrava, invariavelmente, na cozinha, preparando o meu leite com bolinhos. Entretanto, tal proeza, ao invés de me fazer desistir de minhas ilusões, aumentava cada vez mais o meu respeito pelos seus poderes. Embora sentisse uma espécie de alívio por não surpreender minha mãe entre uma personificação e outra, nunca desistia de tentá-lo. Sabia que meu pai e minha irmã desconheciam esta faculdade de minha mãe, e a pecha de traição que imaginava fosse cair sobre mim, se acaso a surpreendesse, era mais do que convinha suportar à idade de cinco anos. Creio mesmo que temiam que fossem me matar, se a pegasse, voando da escola até a janela do quarto de dormir, ou emergindo da invisibilidade, membro por membro, dentro do avental."

(Tradução de Cezar Tozzi, publicado pela Editora Expressão e Cultura.)

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