quarta-feira, 12 de março de 2014

Um poema de R. Ludwig

"Daisy Mac Lellan, a estéril mãe da vila.
Seu leito nupcial, armado a porta aberta,
Permanecerá a portas abertas.
Fiel é o seu corpo que aceita o refugo da vida,
Pronto é o seu corpo, abismo paciente de não nascidos.
Duas gerações de sementes já secam em seu ventre,
Duas gerações de sementes já murcham em suas vísceras -
Sementes de pais pioneiros
E curiosos meninos em procura eterna.

Com mãos robustas ela atou robustos filhos à terra bruta.
Selvagens incêndios de desespero se atearam
E se refrigeraram, no silêncio da noite, junto ao seu leito nupcial.
Obstinação e paciência se aguçaram às bordas do seu leito nupcial.

Obstinação de ficar,
Enraizar-se na terra bruta, e ficar.
Desejo de vencer,
Cabeças pesadas, sob pesadas rochas - e vencer.

Paciência de construir,
Trazer mães, trazer filhos e filhas,
E construir, construir,
Construir.

Daisy Mac Lellan
Por que não permitem que as tuas mãos acarinhem as crianças de cabecinhas brancas?
Por que não podem tuas mãos afagar as cabecinhas de olhos claros?
Por que não hão de os teus lábios tocar os rostinhos salpicados de castanho?

Daisy Mac Lellan -
Estéril mãe da vila.

(Tradução de Paula Beiguelman, do livro Quatro mil anos de poesia, publicado pela Editora Perspectiva.)


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