sábado, 5 de julho de 2014

Um poema de Bruno Tolentino

"A dívida (relendo Os viventes de Carlos Nejar)

A multiplicidade meio endemoniada
desses mundos que crias
talvez venha a custar-te ao termo dos teus dias.
Quando a luz costumeira, baixando rumo ao nada,

for empalidecendo, quando de madrugada
as velas a que lias
as tuas elegias
forem minguando como a estrofe malograda,

talvez te importes, talvez não, mas tudo aquilo
(como o que agora escreves)
talvez venha a cobrar-te mais do que valem as breves

consolações do estilo...
Talvez. Mas por enquanto paga tudo o que deves
ao canto, sem medi-lo."

(Do livro O mundo como ideia, publicado pela Editora Globo.)


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