terça-feira, 5 de agosto de 2014

Dois parágrafos de Nabokov

"Num tímido tremor de paixão juvenil, Hugh ficou pensando se poderia ousar beijá-la em alguma pausa da descida pelo serpenteante atalho. Tentaria tão logo chegassem à sebe de rododendros, onde poderiam parar, ela, para tirar a japona, e ele, para sacudir uma pedra que tinha entrado no sapato direito. Os rododendros e os juníperos deram lugar aos amieiros, e a voz do desespero começou a dizer-lhe para adiar a pedra e o beijo para outra ocasião. Tinham entrado na floresta de abetos, quando ela parou, olhou em volta e falou (tão casualmente como se estivesse sugerindo que colhessem cogumelos ou amoras):
   - E agora a gente vai fazer amor. Sei de um lugar muito bom, cheio de musgo, bem atrás dessas árvores, onde não seremos incomodados, se você for rápido."

(Do livro Transparências, tradução de Vera Neves Pedroso, publicado pela Cedibra.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário