sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Um trecho de "A louca da casa", de Rosa Montero

"Pois bem, o romancista tem o privilégio de continuar sendo criança, de poder ser um doido, de manter contato com o informe. 'O escritor é um ser que nunca chega a ficar adulto', diz Martin Amis em seu belo livro autobiográfico Experiência, e ele deve saber disso muito bem, porque tem todo o aspecto de um Peter Pan um tanto murcho que se nega teimosamente a envelhecer. Algum bem devemos fazer à sociedade com o nosso crescimento meio abortado, com nosso amadurecimento tão imaturo, porque do contrário não seria permitida a nossa existência. Suponho que somos como os bufões das cortes medievais, aqueles que podem ver o que as convenções negam e as conveniências silenciam. Somos, ou deveríamos ser, como aquele menino do conto de Andersen que, quando o pomposo desfile real passa, é capaz de gritar que o monarca está nu. O problema é que depois chega o poder, e o arroubo pelo poder, e quase sempre isto desarruma e perverte tudo."

(Tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman, publicação da Ediouro.)

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