quarta-feira, 19 de junho de 2019
Memória de um sábado
Aos sábados, na época em que o editor-chefe era Miguel Jorge, tornou-se comum - por se tratar de um dia mais tranquilo, porque grande parte da edição era preparada durante a semana - alguns redatores levarem os filhos ao jornal. Claro que os meninos e as meninas brincavam de fazer... jornal. Meus três filhos, Edu, Ana Maria e Raul, cada um a seu tempo, participaram dessa brincadeira. Com o mais jovem, Raul, ocorreram dois fatos engraçados. Um sábado, possivelmente por alteração das normas de segurança da portaria, advertiram-me de que ele não poderia subir comigo. Era uma situação esdrúxula. Se ele não pudesse mesmo entrar, eu também não poderia. Onde iria deixá-lo? Expliquei isso ao guarda e ele, depois de muita relutância, anotou meu nome e o do meu filho xará e permitiu enfim nossa entrada. Estávamos fazia menos de meia hora na redação quando Miguel Jorge recebeu um relatório da portaria detalhando o que ocorrera. Com o rigor e a exatidão devidos, dizia o texto que o "menor", apesar da reiterada proibição, subira comigo às 15 horas. No final, pediam-se providências. Miguel sorriu, pôs uma lauda na máquina (não havia ainda micros na redação) e respondeu dizendo que às 15h10 o "menor" havia sido contratado. Tiago, filho de Miguel, foi um assíduo companheiro de meu filho nessas jornadas de sábado. Uma tarde, cansados de fazer "jornal", improvisaram uma bola amassando algumas laudas, colocaram uma das latas de lixo como se fosse uma tabela de basquete e começaram o jogo. Tiago fez o primeiro arremesso. A bola bateu na borda da lata e saiu. Foi a vez de meu filho - e a bola também resvalou na lata e não entrou. Tiago, então, disse, com impecável precisão: "O jogo está quase a quase."
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