Sou como todos os que vieram antes e os que virão depois de mim. Acho, como eles acharam e acharão, que se deve fazer algo para o dono da companhia. Dos atores que eu conheci, uns, além das belas palavras que diziam, davam piruetas, uns faziam malabarismos, uns engoliam fogo, uns cuspiam estrelas e uns, sem apoios, ficavam flutuando no ar. Uns se foram queixando-se do escasso tempo que tiveram e uns sumiram sem protestar. Estou aqui há oitenta e cinco temporadas e fiz de tudo um pouco. Não sei se permaneço por agradar ou por desagradar. Ninguém viu jamais o dono da companhia - dizem que é um tal de Godot - nem que ideia ele tem do teatro. No início eu me empenhei, mas de uns anos para cá faço tudo igual, sempre igual. Parece que outro ator se apossou de minha pele. Já nem espero prêmio nem castigo, só aguardo a hora de descansar ou (quem sabe?) os que se foram antes de mim talvez tenham hoje outro patrão e possam me recomendar. Pode ser que seja um grupo de comediantes e eu acabe me saindo bem, imitando aquele burro zurrando poemas de amor para a lua.
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