domingo, 2 de fevereiro de 2014
Já houve domingos piores,
domingos em que eu, como idiota, bradava meu infortúnio e tinha como interlocutoras só as pedras. Algumas havia que eu colocava em meu peito, como se fossem pequenas gatas, mas nenhuma delas me respondeu. Depois de horas nesse estúpido exercício, eu ia para casa. À noite, se fazia frio, eu me lembrava delas e pensava no seu sofrimento, tão mudas, tão incapazes de pedir auxílio. Voltava então e as apanhava, e as colocava no sofá, e as cobria. Pedras ou gatas, jamais me agradeceram. Conservei duas ou três, como prova de minha sandice, minha única fortuna. Hoje sei que pedras e gatas não falam, embora às vezes, geralmente aos domingos, eu de madrugada acorde ouvindo risos e cochichos vindos do sofá.
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