domingo, 1 de junho de 2014

O que é o amor

O amor é como uma tempestade em alto-mar: o vento enfurecido, faíscas, relâmpagos, os trovões. As ondas, assustadas, se entrechocam, se batem, se atiram de encontro aos navios, em busca de refugio. Às pragas dos marinheiros que lutam pela vida se juntam as maldições dos marujos mortos em procelas imemoriais. As nuvens descem cheias de ódio, e céu e mar se transformam num animal só, empenhado em destroçar tudo. São vinte, trinta minutos de horror. Parece impossível que alguma coisa escape à destruição. Esse é o amor - o som e a fúria de Shakespeare, a obsessão de Melville, a insanidade de Conrad. Quando miraculosamente ressurge a claridade e perto da praia os veleiros já se atrevem a sair, isso não é mais o amor. É a paisagem de um quadro que o pintor bissexto fará com esmero e levará para vender domingo no parque municipal.

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