https://rubem.wordpress.com/2024/03/17/o-que-voce-viu-em-mim-raul-drewnick/
domingo, 17 de março de 2024
sexta-feira, 15 de março de 2024
A causa
Há vários anos já sem ver um arco-íris, o velho poeta deplora a avareza dos deuses, quando deveria lastimar-se pela crescente incapacidade dos seus próprios olhos.
Resiliência
Venho resistindo à infame tentação de debitar a mister Parkinson minha incapacidade de escrever duas linhas decentes sobre seja que assunto for. Mas meu espírito cristão anda fraquejando.
domingo, 3 de março de 2024
quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024
Sobre alma e dores
Hoje eu me peguei pensando que também a alma talvez seja um daqueles fenômenos típicos e exclusivos da juventude. Senti saudade do tempo em que ela, nos percalços amorosos, me doía docemente. Que diferença das dores prosaicas de agora: de estômago, de garganta, de panturrilha, de rim.
quarta-feira, 21 de fevereiro de 2024
A tentação da poesia
Às vezes a poesia, furtivamente, ainda me acena e tenta enredar-me de novo em seus encantos. Fala-me de amor, como antigamente, e me pergunta como pude me esquecer de tantas coisas mágicas que vivemos. Chama-me de ingrato, acusa-me de não ter alma e, sabendo como sou sentimental, cantarola uma daquelas melodias que cantávamos outrora, e incita-me a dançar como dançávamos em nossa época dourada.. Foi assim hoje. Eu caminhava aspirando o morno aroma do verão, quando ela veio, com seus ardis. Quase me entreguei. Mas mister Parkinson, sempre atento ao que é bom ou mau para mim, puxou-me rapidamente e, como um pai zeloso afastando o filho de um lupanar, me trouxe em segurança para casa.
domingo, 18 de fevereiro de 2024
terça-feira, 13 de fevereiro de 2024
Batalha final
As árvores morrem de pé
e assim também os bravos.
Eu porém herói moderno
quero morrer de modo hodierno
num hospital conceituado
num leito executivo
com ar condicionado.
terça-feira, 6 de fevereiro de 2024
A tarefa
Tem ainda, como aos dezoito anos, um bloquinho e uma caneta, mas não mais a ambição de salvar o mundo pela poesia. Dizem-lhe que o mundo já foi salvo inúmeras vezes, que continuam a salvá-lo e vão citando os nomes dos salvadores. Ele os anota no bloquinho. São tantos. Logo não haverá mais espaço para nada, se um dia o mundo lhe pedir socorro.