terça-feira, 30 de setembro de 2025

Bula

 A vida seria simples, se nós a deixássemos ser.

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Estatuto

 Poetas que não falam de amor deveriam ter o registro cassado.

domingo, 28 de setembro de 2025

Hoje na revista Rubem

 https://rubem.wordpress.com/2025/09/28/a-longilinea-metafora-da-morte-raul-drewnick/

sexta-feira, 26 de setembro de 2025

Amigos para sempre

 A tristeza e eu temos toda uma vida em comum. Amigos de infância, temos passado por fases terríveis, mas nenhuma alegria foi capaz de nos separar.

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Ofício

 Um assunto sobre o qual eu, modéstia à parte, certamente posso opinar é a tristeza. Excetuando um ou dois deslizes, que não chegaram a ser transgressões, tenho décadas de prática.

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

Leitmotiv

 Sou um desses poetas que, se não falam de amor, não têm o que dizer.

Sinopse

 Escassa é minha virtude

E parco é meu cabedal.

Só fiz aquilo que pude

E aquilo que fiz, fiz mal.

segunda-feira, 22 de setembro de 2025

Método

 Vai aprimorando suas astúcias. Toda vez que a vida se distrai e cochila, ele dá dois passos para longe dela. Espera logo estar numa camada tão funda de silêncio que nem a voz da mãe possa alcançá-lo.

domingo, 21 de setembro de 2025

Inépcia

Tive chance, perdi a ocasião.

Bebi da fonte da poesia,

Mas bebi com moderação.

A viagem

 No seu último sonho, era um veleiro.

sábado, 20 de setembro de 2025

Evidências

 Se houver uma rima imperfeita ou um deslize de métrica, podem esperar, que o sonetista voltará para aprimorar o crime.

sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Engodo

 Começo a pensar que fui enganado todo esse tempo. O que estou ouvindo não são cânticos celestiais.

quinta-feira, 18 de setembro de 2025

Script (para Hugo Almeida)

 O fim é excruciante.

Cada dia estou mais morto,

Porém nunca o bastante.

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

Mario Quintana

 Não, não era assim. Os passarinhos é que imitavam Mario Quintana, alguns até muito bem.

terça-feira, 16 de setembro de 2025

O velhaco

 Também hoje o dia amanheceu tristonho, e eu quase senti saudade daqueles antigos, em que o sol, o velho demagogo, vinha me chamar com a estridência verborrágica dos seus passarinhos. 

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Palavra por palavra

 O chato é bem aquele tipo que, se você o manda ir à marafona que o pariu, faz questão de retribuir.

Confissão

Dos meus pecados antigos, o único que ainda venho tentando praticar é o da literatura.

Saúde

 Aos amigos que perguntam como tenho andado, só posso dizer: não ando.

Compromisso

 Esta noite sonhei

que me puseram na mão um papel

um manifesto em favor da vida

ou contra ela

e que para ser honesto

eu não assinei.

domingo, 14 de setembro de 2025

Primor

 Um chato é capaz de, num só dia, contar a você três vezes a mesma piada, sem alterar uma vírgula e sem errar a pronúncia do nome do papagaio, mesmo que ele se chame Ferdinand Dubois.

Hoje na revista Rubem

 https://rubem.wordpress.com/2025/09/14/drummond-toca-a-campainha-raul-drewnick/

MARIA JOSEFA

 Alguns domingos tristonhos, como o de hoje, ainda me vêm perguntar para onde foi que levaste aquele sorriso com que abriste as manhãs de tantos domingos felizes. 

sábado, 13 de setembro de 2025

A tia

 Talvez eu houvesse podido ser um poeta se, quando adolescente, tivesse renunciado ao projeto de minha amada tia, que queria ver-me rei da Espanha.

MARIA JOSEFA

 Comparar-te a uma rosa foi o mais simples dos meus exercícios poéticos. Não precisei fazer nada além de sentar-me no parque, pegar a caneta e ouvir a opinião da brisa.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

Fênix

Se de mim vos recordardes,

Que vos reanime o calor

De nossos dias, das tardes,

Das noites plenas de amor.

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

Promoção

 A aspiração de todo parequema é ser chamado de aliteração.

Valias

 As asas azuis

que para o poeta 

podem parecer bom tema

para um belo poema

para o gramático não são mais

do que um vicioso parequema.

domingo, 7 de setembro de 2025

Trote

 Esta madrugada acordei com um gatinho ronronando em meu peito. Bem, pensei, já estava na hora de me acontecer alguma coisa boa. Sorri e preparei amorosamente os dedos. Quando os pousei, não foi sobre o esperado tufo cálido de algodão, mas sobre a áspera pele de um velho. Mais uma de tantas brincadeiras que, desta vez acumpliciado com meus pulmões, mister Parkinson vem aprontando comigo.

sexta-feira, 5 de setembro de 2025

MARIA JOSEFA

 A brisa explicava às flores que era para elas que tu sorrias. Hoje não mais. Contigo se foram os dias felizes e as metáforas.

quinta-feira, 4 de setembro de 2025

A diferença

 No final da vida há momentos em que você, como no início, diz estou cansado, muito cansado, mas já sabe que agora ninguém aparecerá para ajudar. Isso tem um nome: maturidade.

Herói

 Num canto da sala

no leme do sofá

sua última nau

vai o avô

clamando por Deus

e amaldiçoando obscuros desafetos

desmentindo com sua baba final

a lenda dos seus feitos

e o orgulho de seus netos.


quarta-feira, 3 de setembro de 2025

MARIA JOSEFA

 Se precisasses, poderiam testemunhar em favor de tua majestade todos os adjetivos que desde sempre estão dispostos a advogar a causa da beleza.

MARIA JOSEFA

Nas últimas noites, venho ouvindo um murmúrio que me parece um suspiro de água. Diga-me: aí onde você está há um riacho? Responda, não diga não à minha esperança.

Colinho

 Sou desses que, quando ela se dói mais, chamam a tristeza para o colo e, como se não soubessem a resposta, perguntam: chorando por quê, pobrezinha?

terça-feira, 2 de setembro de 2025

Honestidade

 No final, aceite as frases curtas, não queira orná-las. Em  certas ocasiões, a literatura soa como o arroto de  um defunto tentando passar por eructação no velório.

segunda-feira, 1 de setembro de 2025

Arauto

 O sol nem tinha iniciado seu expediente e um passarinho já cantava tão insanamente aqui que pensei: mais um desses tolos como eu, que se julgam capazes de antecipar a primavera.

A hora

 Se, quando for a hora, melhor eufemismo não tivermos, resignemo-nos. Fechemos os olhos e prosaicamente estiquemos as canelas.

Sobriedade

 Chega um tempo que não é mais o das proclamações. Você simplesmente diz que viveu, se conseguir.