As façanhas do amor
são sempre aquelas
dar uma em pé
no meio do escuro
no muro do shopping
roupa com roupa
se esfregando
e o segurança
por ali farejando
ou então dar outra
no elevador
ai a...mor ai a...mor
tecido contra tecido
e a câmera
de vigilância
registrando tudo
talvez até os gemidos
As façanhas do amor
fora de casa
são pueris
são juvenis
um salto
um zigue-zague
um sobressalto
como se fosse um
passeio bem no alto
num brinquedo espacial
muito especial
no parque de diversões
As façanhas do amor
são sempre aquelas
todas singelas
como roubar pitanga
trepar num pé de manga
num terreno guardado
por um guarda
de uniforme
e espingarda.
sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013
Um poema de Kenneth Rexroth
"AS VANTAGENS DA INSTRUÇÃO
Sou um homem sem ambições,
de poucos amigos, totalmente incapaz
de ganhar minha vida ou ficar mais moço,
fugindo de uma sentença justa qualquer.
Solitário, malvestido, que importa?
À meia- noite eu faço para mim uma jarra
de vinho branco quente com sementes de cardamomo,
com a boina velha e um roupão cinza rasgado,
sento no frio escrevendo poesias,
rabiscando nas margens nus angustiados,
copulando com as gatinhas
ninfomaníacas da minha imaginação."
(Do livro Poesia beat, traduzido por Leonardo Fróes, publicado pela Editora Azougue, organização de Sergio Cohn.)
Sou um homem sem ambições,
de poucos amigos, totalmente incapaz
de ganhar minha vida ou ficar mais moço,
fugindo de uma sentença justa qualquer.
Solitário, malvestido, que importa?
À meia- noite eu faço para mim uma jarra
de vinho branco quente com sementes de cardamomo,
com a boina velha e um roupão cinza rasgado,
sento no frio escrevendo poesias,
rabiscando nas margens nus angustiados,
copulando com as gatinhas
ninfomaníacas da minha imaginação."
(Do livro Poesia beat, traduzido por Leonardo Fróes, publicado pela Editora Azougue, organização de Sergio Cohn.)
Marcadores:
Literatura
Kama Sutra - CVIII
Quando a ausência dela se prolonga e se faz insuportável, ele, para desmerecê-la, se põe a imaginá-la gorda, colossalmente gorda, toda gorda em tudo: coxas, seios, braços, nádegas. Às vezes, acrescenta-lhe celulite. Até hoje não deu certo essa contramanobra da imaginação. Por pior que a retrate, no fim está sempre sussurrando gorda, gorda, minha gorducha.
Marcadores:
Literatura
Kama Sutra - CVII
Quando namorados, ele, permanentemente afogueado pelo desejo, pediu a ela uma noite, num restaurante, que ficasse quieta, que nem piscasse, porque ele ia lhe tirar um pedacinho de massa de pizza da boca. Ela obedeceu e ele, em vez de avançar o dedo, espichou os lábios e colou-os aos dela. Se não houvesse ocorrido esse episódio, talvez nem tivessem se casado. Nunca haviam se sentido tão deliciosamente perturbados. Estão casados há mais de cinco anos e, quando algo ameaça esfriar entre os dois, telefonam e pedem uma pizza. Só de pensarem na repetição do ritual, o sangue lhes ferve e mal podem esperar a entrega. Com o tempo, introduziram algumas variações. Hoje, por exemplo, é ela quem vai tirar com a boca o pedaço de massa. Ainda não está definido de onde ela o tirará. Não há problema. Ele é um desses homens grandes.
Marcadores:
Literatura
O manual
Fecharam um pacto. Não brigariam mais, não se desentenderiam mais, não se dilacerariam mais. O eufemismo passou a ser sua linguagem, e os olhos se fizeram cegos para os mútuos defeitos. Aboliram o amor e descobriram que, com ele, tinham abolido também o ciúme. Com essa espécie de manual não escrito, tornaram-se robustos, saudáveis, e duas maçãs vermelhas fixaram-se no rosto de cada um. Viveram sem sobressaltos e foram felizes para sempre.
Marcadores:
Literatura
Mulheres
Há mulheres
que enlouquecem
meninos
meninotes
rapazes
rapazinhos
rapazotes
Há mulheres
que enlouquecem
homens feitos
velhinhos acabados
velhuscos
velhotes
(tudo bem
eles merecem)
Há mulheres
que pelo hábito
de tantos enlouquecerem
enlouquecem também
(tudo bem
elas merecem).
que enlouquecem
meninos
meninotes
rapazes
rapazinhos
rapazotes
Há mulheres
que enlouquecem
homens feitos
velhinhos acabados
velhuscos
velhotes
(tudo bem
eles merecem)
Há mulheres
que pelo hábito
de tantos enlouquecerem
enlouquecem também
(tudo bem
elas merecem).
Poesia
Falavam de poesia: Pessoa, Drummond, Borges, Lorca, Bishop, Plath, Szymborska. Poesia, poesia, poesia, ouvia o garçom toda vez que passava pela mesa. No momento em que dois deles avisaram que precisavam ir embora, o terceiro protestou: "Justo agora que a prosa está ficando boa?" "A prosa? Que horror!", exclamaram ao mesmo tempo os outros dois. A gargalhada dos três, alta, escandalosa, fez com que todos olhassem para eles. Ora, quem diria, aqueles senhores empertigados... Quando o garçom foi pegar para eles a maquininha de cartões, o dono do restaurante perguntou: "Que piada foi aquela? Me conta." "Não sei, um negócio qualquer de poesia." "Ah, poesia", murmurou decepcionado o dono.
Marcadores:
Literatura
As horas
Se uma nos é muito grata,
Outra só aflições nos traz.
Todas rasgam, ferem, mas
Só a derradeira nos mata.
Outra só aflições nos traz.
Todas rasgam, ferem, mas
Só a derradeira nos mata.
Marcadores:
Literatura
Modo de ler
Quando li Machado de Assis pela primeira vez, não me encantei. Ainda não conhecia o truque de ler nas entrelinhas.
Marcadores:
Literatura
Um poema de Lawrence Ferlinghetti
Na doceria barata depois do Elevado
foi onde pela primeira vez
me vi apaixonado
pela irrealidade
as balas reluziam na semiescuridão
daquele entardecer de setembro
um gato deslizava sobre o balcão
entre pirulitos
e pães de forma
e Oh chicletes de bola
Lá fora as folhas caíam outonais
O vento soprava para longe o sol
Uma garota entrou apressada
Os cabelos ensopados de chuva
Os seios sufocados pela loja minúscula
Lá fora as folhas caíam
e gritavam
Ainda não! Ainda não!"
(Do livro Poesia beat, traduzido por Sergio Cohn, publicado pela Editora Azougue.)
foi onde pela primeira vez
me vi apaixonado
pela irrealidade
as balas reluziam na semiescuridão
daquele entardecer de setembro
um gato deslizava sobre o balcão
entre pirulitos
e pães de forma
e Oh chicletes de bola
Lá fora as folhas caíam outonais
O vento soprava para longe o sol
Uma garota entrou apressada
Os cabelos ensopados de chuva
Os seios sufocados pela loja minúscula
Lá fora as folhas caíam
e gritavam
Ainda não! Ainda não!"
(Do livro Poesia beat, traduzido por Sergio Cohn, publicado pela Editora Azougue.)
Marcadores:
Literatura
Assinar:
Postagens (Atom)