sábado, 3 de setembro de 2016

Um pouco mais de Dalton, por que não?

""Dia das Mães: Quantos crimes literários, ai, mãe, são cometidos em teu nome!"

                                                                      ***

"- Ai, feliz era eu quando tinha ali na cama três bombons recheados de licor: a tua boquinha vermelha em coração, o teu peitinho branco em flor, esse teu púbis de asinhas douradas de colibri"

                                                                      ***

"- Foi o primeiro amor, um amor tão desesperado, quando ela me deixou, ai de mim, só não morri porque, aos 20 anos, você não morre."

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"- A glória de uma loira nua nos teus braços de que vale se não é o triste corpinho da bem-querida?"

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"Para ele o rico pastelzinho. Para ela o cheiro de fritura no cabelo."

(Do livro Pico na veia, Editora Record.)

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Cotação do dia

E, toda manhã, este sol trapaceiro que, abrindo sua maleta de mascate, nos pede que apalpemos o amor. E, toda manhã, concordamos: sim, o amor é seda.

Última curva

Em nosso caminho final
as flores se exibem murchas e desmazeladas
como putonas de estrada
e o sol brilha por obrigação
como um funcionário temporário
sem chance de contratação.

Um pouco mais de Dalton Trevisan

"O velho para a mocinha:
- O que mais você quer? Não te dei um relógio que brilha no escuro? Uma calcinha vermelha de renda preta? Quem te lavou o corpo quando era uma ferida só?"

                                                                       ***

"Ela só dorme com a mão bulindo no teu punhal de mel: Assim ele sabe de quem é."

                                                                       ***

"- Para. Ai, para. Ai, ai. Para.
- Pronto. Já parei.
- Quietinho.
- ...
-Não, não. O punhal deixa ficar."

                                                                       ***

"- Tua doce lembrança , ai maldita, essa brasa dormida nas cinzas frias do meu coração."

                                                                       ***

"O exibicionista, abrindo a capa:
- Aqui, suas diabinhas. Olhem todas. Vinte e um centímetros de puro prazer. Só pra vocês. Ai, safadinhas. Vinte e um... de... Ai, não fujam. Esperem. Não é justo, Senhor. Assim... eu não..."

(Do livro Pico na veia, Editora Record.)

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Conceitos

Quem pela primeira vez disse que todo homem está sujeito a errar pode ter sido também quem criou a máxima segundo a qual não há regra sem exceção.

Na dela

A poesia pode perguntar por quê. Mas só de vez em quando. Que a filosofia, esta sim, assuma o risco de parecer empertigada. A poesia há de dar a impressão, sempre, de ser uma garota estouvada e talvez até irresponsável.

Corinthians - Música por Antônio Ianovali Neto e Raul Drewnick

Mario Quintana (para Silvia Galant François)

Sempre que Mario Quintana aparecia num parque, folhas, grãozinhos de terra e fiapos de nuvem pousavam em sua mão, para que ele, ao soprá-los, os transformasse em borboletas.

Identidade

Tenho cada dia menos pontos em comum comigo mesmo. Para reconhecer-me, preciso às vezes buscar no espelho meu sorriso amargo.

Curtíssimos ais de Dalton Trevisan

" Curitiba, essa grande favela do primeiro mundo."

                                         ***
"No Passeio Público, ao longo do viveiro de aves, o menino para a mãe:
'Olha só, mãe. Aqui não tem nada. Legal, né? A gaiola tá vazia.'"

                                         ***

"O casal brigado, de costas. Longo silêncio. De repente, o velho:
- Sua diaba. Para de ficar ouvindo o meu pensamento."

                                         ***

"Ao ler a traição de Capitolina, geme a santíssima Carolina:
- Ai, Machadinho. Que dirão as minhas amigas no chá das cinco?"

"Curitiba toda catita do primeiro mundo - com essa população de quarto mundinho?"