segunda-feira, 1 de maio de 2017

Ambição (para Rose Marinho Prado)

Eu gostaria de ser um poeta que me agradasse.

Dedicação plena (para Verônica Marzullo de Brito)

Todo o meu corpo se pôs à disposição do verbo doer.

Placa sob neblina (para Rose Marinho Prado)

Você não tem como errar,
Ninguém pode, ainda que tente.
É só seguir devagar;
A meta é ali logo em frente.

Cotação do dia

Estou mais para reumatismos que para romantismos.

Tanto tempo

Talvez tivéssemos merecido, um dia, melhor avaliação. Foi há muito tempo, certamente, tanto, tanto, que a memória já não poderia ser chamada como nossa testemunha, se quiséssemos.

Moeda antiga

Ter pena de mim é algo que já não faço com a mesma naturalidade, tantos anos depois. Sinto-me um impostor, como sujeito e como objeto.

No mínimo

Que pelo menos a nossa melancolia passe diante dos outros sem que alguém possa nos acusar de falsidade, como fizeram com todos os nossos outros sentimentos.

Negócio fechado

Minha vida ainda não acabou, é verdade. Mas, com a autocondescendência que minha idade talvez justifique, sinto-me tentado a lhe dar sete e meio, pelo conjunto, como nota definitiva. Amanhã ou depois, receio que nem sete ela valha.

Ovos, para que vos quero?

Agora há pouco passou aqui pela rua um exemplo de romantismo tardio. O carro do vendedor de ovos, apregoando a excelência da mercadoria e lamentando não poder ficar por muito tempo,,porque outras freguesias o esperavam nesta imensa cidade, repetiu o convite, com um final dramático: venham, venham logo, antes que seja tarde demais.

De Fernando Pessoa, sobre Henri-Frédéric Amiel

"O diário de Amiel doeu-me sempre por minha causa. Quando cheguei àquele ponto em que ele diz que sobre ele desceu o fruto do espírito como sendo a 'consciência da consciência', senti uma referência direta à minha alma."