segunda-feira, 9 de março de 2015

Meia cópula

Metáforas sem calor,
Frases bobas, rimas chochas,
Nada há mais constrangedor
Que um poema feito nas coxas.

domingo, 8 de março de 2015

20h34

Hora de fechar a lojinha. Hoje a mantivemos aberta com uma expectativa diferente. As cicatrizes vão se consolidando e quem sabe um dia possamos receber o amor aqui e mandá-lo voltar para os seus marinheiros tatuados, seus sanfoneiros berrantes, seus bisonhos estudantes, seus fotógrafos especialistas em índio pelado, seus achacadores, seus abigeatários. Nossos cotovelos sangram ainda de dor, mas a alma vai vomitando aos poucos o veneno que lhe deram.

Saldo

Saiu do amor levemente cardíaco, completamente desesperançado, frustradamente vegetariano, vilmente traído e com uma birra eterna por estudantes imberbes, ladrões de gado, marujos holandeses, curadores de arte munidos de pincenê e bodes tocadores de sanfona.

Realidade

Que aos outros caibam a glória
E os troféus da primazia.
Não busco um lugar na história
Com a minha tosca poesia.

Luxo

Estamos mortos. O amor
Ao agente funerário
Recomenda, perdulário:
Quero flores, muita flor.

Pula, pula

Quem poderá nos salvar
Se em todo prédio e viaduto
O amor, esse velho puto,
Nos aconselha a saltar?

Cotação do domingo

Nenhuma chance mais temos,
O que mais nós esperamos?
Já mais que mortos estamos.
Fedemos e federemos.

Cheiro errado

Hoje um cão me farejou
E frustrado foi embora,
Tal qual o amor me cheirou
E seguiu adiante, outrora.

Versões

Agora que ela o deixou,
A versão que ele dá é
Que ele foi que a abandonou
Por causa do seu chulé.

Horário comercial

9h00. Abro a loja. Não tenho ilusão. Quem aparecerá num domingo? Talvez um cão perdido, que farejará tudo e irá embora, decepcionado. Talvez o sol, que não reconhecerá em mim aquele que, certa manhã, andou de mãos dadas com o amor.