segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

Um poema de Seamus Heaney

"Quando todos os outros estavam na igreja
Eu era ao descascarmos batatas só dela.
Quebravam o silêncio, uma a uma, soltar,
Como solda a cair de um ferro de soldar:
Entre nós frios consolos, o que se partilha
Cintilando num balde de água limpa.
E de novo soltar. Agradáveis salpicos
De nossa faina nos devolvendo o juízo.

Assim, enquanto à sua cabeceira o vigário
Com mão armada orava para a agonizante,
Alguns respondendo e alguns em pranto,
Lembrei-me de seu rosto para o meu voltado,
Do hálito no meu, da fluente faca descida -
Jamais tão próximos para o resto da vida."

(De Poemas, tradução de José Antonio Arantes, Companhia das Letras.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário