"Teria querido sentir-me áspero e essencial
como as pedras que volteias,
carcomidas pela salsugem;
fragmento fora do tempo, testemunha
de uma vontade fria que não passa.
Outro fui: homem que atento olha
em si mesmo, nos outros, a efervescência
da vida fugaz - homem a quem tarda
o ato, que ninguém, depois, destrói.
Quis buscar o mal
que corrói o mundo, a pequena torção
de uma alavanca que paralisa
a máquina universal; e vi todos
os eventos do minuto
como se prestes a desmoronar.
Se seguia o sulco de um caminho o oposto
me tentava o coração; e talvez
me faltasse a lâmina que corta,
a mente que decide e se resolve.
De outros livros precisava,
não de tua página altissonante.
Mas nada lamento: tu desatas
ainda os nós incertos com teu canto.
O teu delírio agora sobe aos céus."
(De Poesias de Eugenio Montale, tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti, publicação da Record.)
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