domingo, 8 de junho de 2014

"Os novos iconógrafos", de Eugenio Montale

"Estão preparando a iconografia
dos escritores máximos e em breve mesmo
a dos mínimos. Veremos onde habitaram,
se em mansões ou em pardieiros, suas escolas
e latrinas se internas ou em anexos
do lado de fora com os canos suspensos
sobre pocilgas, estudaremos os horóscopos
dos ascendentes, rebentos e descendentes,
as ruas frequentadas, os prostíbulos, se algum ainda
sobrevive à honrada Merlin,
tocaremos suas vestes, seus roupões, suas seringas anais
se usadas e quando e quantas vezes, os cardápios de hotéis,
as promissórias assinadas, as loções
ou poções ou decocções, a duração
de seus amores, etéreos ou carnívoros
ou apenas epistolares, leremos
fichas clínicas, análises e se buscavam o sono
lendo Baffo ou a Bíblia.
                                    Assim a história
descura as epistemes pelas hemorroidas
enquanto flâmulas olímpicas tremulam dos mastros
e rajadas de metralha fornecem o acompanhamento."

(De Poesias de Eugenio Montale, tradução de Geraldo Holanda Cavalcanti, publicação da Record.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário