"Outro caso clamorosamente injusto é o da pobre Sonia Tolstoi, que foi capaz de conviver durante quarenta e oito anos com o energúmeno do Leon Tolstoi, que era um louco feio, um indivíduo insuportável e messiânico, sem dúvida genial, mas também brutal, um reacionário profundo, um machista feroz: 'Sua atitude com as mulheres é de uma obstinada hostilidade. Nada lhe agrada mais do que maltratá-las', disse dele Máximo Gorki. Sem dúvida Tolstoi maltratou Sonia, que, apesar de tudo, o amava. Cuidava dele como uma escrava, suportava seus desprezos e seus insultos, passava a limpo todos os seus escritos (milhares de páginas ilegíveis), aconselhava-o literariamente e o recebia todas as noites em sua cama, engravidou dele dezesseis vezes. Sonia, que era uma grande leitora, tinha certeza de que seu marido era um gênio, e sua convicção adoçava a sua vida, de resto amarga."
(Do livro A louca da casa, tradução de Paulina Wacht e Ari Roitman, publicado pela Ediouro.)
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