domingo, 16 de novembro de 2014

Um poema de Manoel de Barros

"Prefiro as máquinas que servem para não funcionar: quando cheias
de areia de formiga e musgo - elas podem um dia milagrar de flores.

(Os objetos sem função têm muito apego pelo abandono.)

Também as latrinas desprezadas que servem para ter grilos dentro -
elas podem um dia milagrar violetas.

(Eu sou beato em violetas.)

Todas as coisas apropriadas ao abandono me religam a Deus.
Senhor, eu tenho orgulho do imprestável!

(O abandono me protege.)

(Do livro Poesia completa de Manoel de Barros, publicado pela LeYa.)

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