sábado, 18 de fevereiro de 2017

"Onde as apólices perdem o valor", de Lourença Lou

"ele me amava
e me olhava com aqueles olhos trágicos

eu o deixava me amar
e colhia nas mãos o suor do seu prazer
como se este gesto o fizesse renascer

ele não sabia se eu o amava
eu não sabia se ele viveria sem mim
e continuávamos nos olhando depois do sexo
naquele imenso reflexo com manchas do tempo

nosso amor
foi virando um canteiro de ervas daninhas
arrancando o que ainda nos sorria

assustei-me
joguei álcool na nossa história
queimei-nos numa pira medieval

e nunca mais eu soube de nós dois"

(Do livro Equilibrista, Editora Penalux.)

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