Supondo que ainda haja quem leia o blog, ainda que seja só um abnegado leitor, ofereço a essa generosa criatura, hoje, um poema de verdade.
Fui sorteado. Levantei-me da mesa.
Já estava chegando o horário de visitas no hospital.
Não respondeu nada quando o cumprimentei.
Quis tomar a sua mão - ele a retirou
como um cão faminto que não entrega o osso.
Parecia se envergonhar de morrer.
Não sei o que se diz para alguém como ele.
Nossos olhos divergiam como numa fotomontagem.
Não me pediu para ficar nem para sair.
Não perguntou de ninguém da nossa mesa.
Nem de você, Bolek. Nem de você, Tolek, Nem de você, Lolek.
Minha cabeça começou a doer. Quem está morrendo para quem?
Elogiei a medicina e as três violetas num copo.
Falei sobre o sol e fui me apagando.
Que bom que tem escadas por onde se desce correndo.
Que bom que tem um portão que se abre.
Que bom que vocês me esperam junto à mesa.
Cheiro de hospital me dá náusea."
(Do livro Para o meu coração num domingo, tradução de Regina Przybycien e Gabriel Borowski, Companhia das Letras.)
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