Há cinquenta anos, se um poeta se dispusesse a escrever uma quadrinha e terminasse fazendo um soneto, seria celebrado pelos confrades e agradeceria a todos os deuses pela inesperada proeza. Com a mudança de hábitos e gostos dos leitores e o surgimento de uma brilhante geração de penalistas, que culminaram com a tipificação do soneto como delito de lesa-literatura, quem hoje tenta uma quadrinha e consegue um soneto comete um crime preterintencional. Mais ou menos como se alguém, ao assistir a um número circense em que três palhaços andassem em bicicletas sobre um arame, atirasse uma pedra para derrubar o chapéu de um deles e acabasse, por um inimaginável ricocheteamento, fazendo o trio todo estatelar-se com as bicicletas no picadeiro.
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