segunda-feira, 4 de outubro de 2010
Lírica (835) - Escultor
Desde a juventude, ele quis a grandeza. Glória, perenidade e imortalidade eram as palavras e as ambições que o moviam. A efemeridade parecia-lhe um insulto à natureza do homem. Entregue diuturnamente ao desmedido projeto de perpetuar em bronze a essência da rosa e até o sopro do vento, um dia sentiu que seu corpo dava sinais de que a terra o chamava, não para a eternização da estátua, mas para a prosaica, primordial e maleável indefinição do barro. A partir desse dia, até o último, voltou os olhos para o movimento, para a graça das folhas balançando, para as flores se abrindo à carícia da brisa, para o voo dos passarinhos, e tudo se revelou mais extraordinário que qualquer monumento criado por mão humana. Atendendo a antigas súplicas, deixou que o neto de seis anos amolgasse, riscasse e trincasse à vontade as figuras que ele distribuíra ao longo dos anos pelo ateliê e que por tanto tempo presumira serem seu caminho para a imortalidade.
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