terça-feira, 30 de novembro de 2010
Lírica (1.253) - Desvio
Quando a mulher ergueu a blusa e deixou à mostra o umbigo, o homem foi tomado por uma afetuosidade tão morna e infantil, uma ternura tão desfalecente que se sentiu incapaz, naquele momento, de consumar o que tinha premeditado fazer no quarto onde o crepúsculo começara a se infiltrar. Precisou reconvocar toda sua seiva e honra de macho para não ficar apenas acariciando interminavelmente aquele umbigo que o induzia a lembrar-se da infância, de quintais onde pequenas laranjas, com umbiguinhos graciosos, embora um tanto azedinho fosse seu gosto, estimulavam furtivas incursões.
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