domingo, 9 de fevereiro de 2014

Saroyan, Pessoa

Tive duas estupefações na minha vida de leitor, ambas quando eu estava com dezesseis ou dezessete anos. Uma, na prosa: William Saroyan, com os contos de Jovem audaz no trapézio volante. A segunda, na poesia de Fernando Pessoa. De tudo que li depois, e não foi pouco, nada mais me impressionou tão profundamente. E, nos dois casos, acredito que o assombro tenha sido causado pela extrema simplicidade. Eu já estava intoxicado pela literatice, quando Saroyan e Pessoa me mostraram que o esmero e o artifício jamais devem ser visíveis num texto. Tudo deve dar a impressão de ter saído de primeira, sem esforço. O trabalho que o escritor teve não há de transparecer nunca. Nos contos de Saroyan, a simplicidade não é só a da forma; também nos temas ela aparece. Na poesia de Pessoa, o conteúdo, metafísico, filosófico, é todo transmitido sem que uma palavra sequer assuma ares de pernosticismo. Para os que estranharem o fato de Pessoa estar aqui em companhia de Saroyan, um convite: se ainda não o fizeram, leiam Saroyan.

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