sábado, 7 de junho de 2014
Numa tarde
Numa tarde como esta, triste como o enterro de uma criança, quem nos dará alívio, quem nos confortará, e com o quê? Fomos abandonados pelo amor e o nosso orgulho nos impede de chamá-lo. É quando estamos assim que sentimos ter alma. E ela se encolhe, porque tem frio e porque não quer pôr à mostra sua humilhação. Como machucam as dores da alma! Como é insuficiente esse ponto de exclamação da frase anterior. E mais este! Não há no teclado uma letra ou um sinal que possam exprimir verdadeiramente uma dor de alma. A alma é tão frágil, tão delicada. A alma é tão vulnerável. Que vantagem há em se ter alma? Já não nos basta este corpo, já não nos basta ter estes dois olhos que insistem em chorar? E quem disse que chorar alivia? Nesta tarde, triste como o enterro de um menino assassinado, eu - egoísta - não choro por ele. Choro inutilmente por mim e por minha alma.
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