quinta-feira, 7 de agosto de 2014

A convicção

Quando a sétima década se acumulou sobre ele, teve como certo que nenhuma mulher jamais olharia para ele. Era insignificante, anódino e inútil como um desses objetos que, tirados de cena pelo tempo ou por um providencial desastre causado pelas mãos de uma pouco zelosa empregada, mostram como o piano sobre o qual estavam readquire subitamente sua imponência. Isso era, nele, uma convicção. Uma noite uma mulher olhou para ele, com olhos em que talvez houvesse algum amor, ou uma súbita urgência de aconchego, mas foi como se não olhasse. Ele desviou os olhos, consciente do engano.

Nenhum comentário:

Postar um comentário