segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Nós, os poloneses

Quando queria explicar algo inexplicável, tornar menos lastimosa uma derrota, fazer soar mais terna uma história, era comum meu pai, em alguma parte do relato, introduzir a expressão nós, os poloneses. Minha mãe creio que o entendia bem nessas horas. Eu vim a entendê-lo agora, já no fim do meu caminho. Talvez na época me faltassem ainda as derrotas, hoje tão comuns na minha vida. Diante das mais recentes, eu me surpreendi murmurando, como ele, nós, os poloneses. Há nas três palavras uma resignação que me faz bem, uma humanidade que se aceita com toda sua carga de dores. Não há bravata nelas, mas um orgulho modesto, uma espécie de ética do sofrimento. Chopin conhecia bem isso, e Wislawa conhecia ainda melhor que ele. Chopin às vezes se permitia certo exagero ao mostrar as feridas. Wislawa as exibia com pudor, como se fossem feridas alheias - feridas de qualquer homem, em qualquer parte do mundo.

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