"Sou suscetível ainda de todas as paixões, porque as tenho todas em mim. Como um domador de animais ferozes, tenho-as enjauladas e atadas, mas ouço-as rugirem às vezes. Afoguei mais de um amor nascente. Por quê? Porque com esta segurança profética da intuição moral eu os sentia pouco viáveis e menos duradouros do que eu. Afoguei-os em proveito da futura afeição definitiva. Os amores dos sentidos, da imaginação, da sensibilidade eu os penetrei e rejeitei, queria o amor central e profundo. Ainda creio nele, e tanto pior para a honra do sexo feminino, se não tenho razão.
Não quero estas paixões de palha que deslumbram, consomem ou secam; chamo, aguardo e espero ainda o grande, o santo, o grave e sério amor que vive em todas as fibras e em todas as potências da alma. Toda mulher que não o compreende não é digna de mim. E, se hei de permanecer só, prefiro levar minha esperança e meu sonho a malcasar minha alma."
(De Diário íntimo, tradução de Mário Ferreira dos Santos, publicação da É Realizações, Editora, Livraria e Distribuidora Ltda.)
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