sábado, 22 de setembro de 2018

"Madrugada", soneto de Ribeiro Couto

"Se minha mãe chegasse nesta hora
Como havia de ser o seu sorriso?
Sorriso? Não. Diria como outrora
'É tão tarde, menino sem juízo!'

É tarde. Não há dúvida. Lá fora
Vejo o dia nascer, ainda indeciso,
E eu a escrever poesia até agora,
Meu veneno, meu mal, meu paraíso.

Ao fim de tantos anos e trabalhos,
Ainda sou o menino que antes era.
Para dormir tinha que ouvir uns ralhos.

Se vou sempre tão tarde para a cama,
É talvez na esperança - ó vã espera! -
De ouvir quem já não ralha nem me chama."

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